O Brasil e o Reino Unido assinaram um acordo para acelerar a transformação digital nos serviços públicos no país. O memorando de entendimento foi assinado em 29 de dezembro de 2020 pela embaixadora interina do Reino Unido no Brasil, Liz Davidson. Também assinou o documento o secretário digital brasileiro, Luis Felipe Monteiro. De acordo com o memorando, os países trabalharão juntos até março de 2023.
O acordo surgiu devido à abordagem do Reino Unido à prestação de serviços digitais ao cidadão. Afinal, ela tem uma alta classificação nas avaliações de prontidão do governo digital das Nações Unidas. Portanto, serviu de inspiração para o Brasil.
Centralização de serviços
A formalização da parceria enfatizou aspectos como governança de dados e acessibilidade. Contudo, sem deixar de lado o planejamento e implementação de projetos de digitalização. O mesmo vale para compartilhamento de conhecimento.
“Tanto o Reino Unido quanto o Brasil integraram centenas de sites governamentais em um único portal. Isso reduziu os labirintos que seus cidadãos precisam percorrer para acessar os serviços públicos. Portanto, a experiência do usuário melhorou. Afinal, o ambiente agora é mais acessível, ágil e seguro.” – Monteiro.
A cooperação faz parte do Prosperity Fund do Reino Unido. Esta é uma carteira de £ 1,2 bilhão de projetos focados em países de renda média que concentram a maior parte da população pobre do mundo. Contudo, espera-se que dela partirão 60% do crescimento econômico, até 2030. Essa é a estimativa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O Fundo busca promover o crescimento econômico inclusivo e reduzir a pobreza. Entretanto, também visa criar oportunidades para negócios internacionais. No Brasil, a carteira do Fundo inclui programas em áreas como o acesso digital. Este visa promover o acesso digital para populações excluídas.
Acordo de transformação digital entre Reino Unido e Brasil é fundamental
“A crise global causada pela pandemia Covid-19 revelou alguns dos desafios que enfrentamos como governo. Contudo, uma estratégia governamental digital poderosa ajudou a mitigar muitos. Agora, mais do que nunca, a troca de experiências e apoio mútuo entre os governos é mais importante.” – Davidson
De acordo com a Secretaria de Governo Digital do Brasil, mais de 4.000 serviços governamentais foram centralizados e disponibilizados na plataforma Gov.br. Destes, 65% podem ser solicitados e entregues totalmente online. O Portal do Cidadão Brasileiro foi lançado em setembro de 2019 após seu anúncio em abril, há alguns meses.
Desde o lançamento do projeto para colocar os serviços digitais online, o Brasil foi reconhecido por seus esforços. Portanto, foi classificado no grupo “altíssimo” do Índice de Desenvolvimento de Governo Eletrônico das Nações Unidas no ano passado.
Atraindo investimentos
Entretanto, o governo brasileiro também está tentando acelerar a transformação digital para atrair investimentos estrangeiros. Especialmente quando se trata de melhorar a conectividade.
Afinal, atualmente, mais de 20 milhões de domicílios no Brasil são excluídos digitalmente. O problema da falta de conectividade é especialmente perceptível em famílias nas partes mais pobres do país. 35% das residências no Nordeste não usam a web. Isso também é verdade para 45% das famílias brasileiras que recebem salário mínimo.
Pandemia destaca a desigualdade digital no Brasil
Problemas como a falta de conectividade entre as populações mais pobres tornaram-se evidentes durante a crise. Por isso, o acordo de acelerar a transformação digital entre Reino Unido e Brasil é tão importante.
Conforme a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o novo epicentro da Covid-19. Portanto, a desigualdade digital do país se tornou evidente. Afinal, os cidadãos vulneráveis não podem ter acesso a serviços básicos em meio à pandemia.
Uma recente pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) descobriu o seguinte:
Cerca de 71% dos domicílios brasileiros têm acesso à Internet. No entanto, mais de 20 milhões de lares estão excluídos digitalmente.
Trabalho e ensino remoto
E as medidas de distanciamento social implantadas durante a pandemia agravou essa situação. Afinal, milhões de brasileiros têm contado ainda mais com a internet e a tecnologia em geral não só para trabalhar. Mas também para estudar e realizar atividades cotidianas em geral. Isso, além de obter ajuda financeira emergencial.
Segundo Alexandre Barbosa, gerente no Cetic.br, braço de pesquisa do CGI, a pandemia tornou ainda mais evidentes as diversas questões relacionadas à questão da exclusão digital no Brasil:
“A falta de acesso à Internet e o acesso exclusivo pelo celular, principalmente [entre os brasileiros mais pobres], apresenta desafios relevantes para a eficácia das políticas públicas para lidar com a pandemia.”
Os estudantes de famílias vulneráveis e sem acesso à Internet também são bastante afetados neste período de distanciamento social. Portanto, a pandemia revelou claramente as desigualdades no Brasil.
O papel do smartphone
O smartphone é o principal dispositivo de acesso à Internet no Brasil. Afinal, 99% dos usuários afirmam usar o celular para essa finalidade. No entanto, mais da metade (58%) dos brasileiros acessa a rede exclusivamente pelo celular. E esse percentual chega a 85% entre a população mais pobre. O uso exclusivo de smartphones para acessar a Internet também é prevalente entre a população negra (65%). Ao menos em comparação com 51% da população branca.
A pesquisa, já em seu 15º ano, vem percebendo uma queda consistente da presença de computadores nos lares brasileiros nos últimos quatro anos. A pesquisa sugere o seguinte:
- 95% das famílias mais ricas do Brasil (classe A, na pirâmide socioeconômica brasileira) possuem algum tipo de computador;
- Enquanto isso, o equipamento está presente em 44% da classe média baixa (classe C);
- Somente 14% dos brasileiros na base da pirâmide, as classes D e E possuem computador em casa.
Há esperança
Contudo, a pesquisa mostrou que houve algum progresso no Brasil em termos de inclusão digital em geral. Afinal, pouco mais da metade da população está vivendo em áreas rurais (53%). Em paralelo, 77% dos residentes de áreas urbanas relataram ter acesso à Internet.
Em termos socioeconômicos também houve um aumento no percentual de internautas na base da pirâmide.Afinal, os acessos das classes D e E passaram de 30% em 2015 para 57% em 2019. No entanto, um percentual significativo da população brasileira continua excluída digitalmente:
- 35 milhões de pessoas em áreas urbanas (23%);
- 12 milhões de cidadãos em áreas rurais (47%).
Uma pesquisa separada, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, revelou achados semelhantes sobre a exclusão digital no país. Os motivos incluem falta de conhecimento técnico e disponibilidade de serviço, segundo o estudo.
Por isso, incentivar a transformação digital é de suma importância no Brasil. E o acordo com o Reino Unido ajudará bastante nesse processo.
Fonte:
Mercopress